Uma nova filosofia de responsabilidade sócio-ambiental está mudando o conceito de design em todo o mundo. Os profissionais e estudiosos mais antenados já estão aderindo ao eco-design e ao design sustentável para acelerar a mudança nos processos de produção e consumo e ajudar a criar alternativas sustentáveis para o desenvolvimento.
Diferente do design convencional, que busca agregar valor a um produto apenas para alavancar seu potencial econômico, o eco-design e o design sustentável buscam projetar soluções para o consumidor sem abrir mão do respeito ao meio ambiente e à sociedade. Para isso, ele se utiliza de técnicas específicas, tecnologias limpas e materiais apropriados, estimulando as atitudes social e ecologicamente corretas.
E para entendermos melhor como tudo isso funciona, é preciso diferenciar eco-design de design sustentável. O primeiro termo começou a ser discutido na década de 80, com o surgimento das primeiras discussões sobre desenvolvimento sustentável. Seu objetivo é preservar ao máximo o meio ambiente por meio de técnicas de design e assegurar que as gerações futuras tenham direito a usufruir dos recursos naturais, como nós o fazemos hoje.
Segundo Claudio Pereira Sampaio, pesquisador do Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná e professor universitário, o design sustentável vai um pouco além. Ele engloba as vertentes ambiental, social e econômica que estão ligadas ao desenvolvimento e à utilização de um produto.
Para isso, durante o processo de planejamento e desenvolvimento do material, o profissional do design sustentável estuda todo o seu ciclo de vida, desde a matéria-prima utilizada até o seu descarte final, e fica atento a uma série de fatores que podem influenciar na forma como aquele produto irá impacta o ambiente.
O conceito de design sustentável pode ser aplicado de diversas formas, como:
Por meio da recuperação de material. Os materiais utilizados devem estar o mais próximo possível de seu estado natural para que sejam facilmente recuperados. Materiais compostos são de difícil recuperação e reciclagem, pois muitas vezes não é possível a segregação dos componentes originais.
Desenvolvendo projeto “simples”. Os produtos desenvolvido de formas simples – sem descuidar do fator estético – geralmente têm custo de produção menor, pois utilizam menos materiais e permitem maior facilidade de montagem e desmontagem.
Reduzindo as matérias-primas na fonte. Essa atitude visa reduzir o consumo de materiais ao longo do ciclo de vida do produto, o que reduz também a quantidade de resíduos gerados na hora do descarte.
Recuperando e reutilizando os resíduos. É um engano pensar que resíduos só são gerados na hora do descarte. Essa é apenas uma fração de tudo o que é jogada fora durante todo o processo, o que inclui a fabricação e o uso de um produto. Por isso, é importante adotar tecnologias que recuperem os resíduos, aproveitando o máximo da matéria-prima e obtendo ganhos econômicos e ambientais utilizando formas de energia renováveis. Esse é um dos pressupostos do desenvolvimento sustentável, porém é preciso ficar atento ao ciclo de vida dos equipamentos que utilizam energias renováveis para se determinar a viabilidade, tanto ambiental quanto econômica, destes equipamentos. Pode ocorrer que para a fabricação de um coletor solar, por exemplo, seja consumida uma grande quantidade de recursos não renováveis e seja gerada uma grande quantidade de resíduo perigoso.
Utilizando materiais eco-friendly. Os designs sustentáveis sempre que possível, optam por utilizar matérias-primas renováveis substituindo as não renováveis. São materiais como o bambu, as tintas de origem vegetal (substituindo as químicas), as madeiras de reflorestamento, os plásticos reciclados etc.
Optando por produtos com maior durabilidade. A extensão da vida útil de um produto contribui significativamente para a eco-eficiência, já que um produto durável evita a necessidade de fabricação de um substituto.
Recuperando as embalagens. A aplicação desta prática prevê que as embalagens possam ser reaproveitadas, seja na reutilização ou na reciclagem. A utilização de produtos com refil é um bom exemplo de reutilização de embalagens. Para isso, é importante que os fabricantes assumam a responsabilidade pelas suas embalagens e desenvolvam sistemas de recolhimento que facilitem a reutilização ou a reciclagem.
Os profissionais buscam utilizar materiais alternativos/Foto: Social is Better
Mudanças
Para Claudio, o cenário do design sustentável tem evoluído bastante nos últimos anos. “As empresas estão se adequando, apesar de ainda serem reativas à questão. Poucas são pró-ativas e essas se destacam”, afirma.
Segundo o professor, o mercado também está mudando, especialmente na Europa, onde as pessoas estão mais preocupadas, conscientes e ativas. “Nos Estados Unidos a população está se atentando e se adequando à realidade. Em países emergentes, como a China e a índia o problema ainda é bastante grave, pois eles ainda consomem exageradamente e de forma insustentável. Aqui no Brasil a tendência é que o tema cresça e se desenvolva cada vez mais, já que a mídia e as empresas também têm dado mais importância à questão”, atenta Claudio.
Para ele, a sociedade está aberta e tem se mostrado favorável à idéia, porém ainda falta muita informação. “Não adianta de nada fazermos produtos sustentáveis se não reduzirmos o nosso consumo. Nosso maior desafio hoje é conscientizar as pessoas a comprarem apenas o necessário, senão nada disso vai valer a pena.”

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